sexta-feira, julho 30, 2004

DEMOCRATIZÃÇÃO DA INFORMAÇÃO

Frei Betto fala no FSA sobre democratização da Informação
(Fonte: Notícias Adital - 26/7/2004)

Cerca de 250 pessoas compareceram hoje ao auditório da Universidade Católica do Equador para ouvir a palestra "Democratização da Informação através da Inserção da Agenda Social Latino-Americana na Mídia Internacional", promovida pela Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital) e proferida pelo jornalista, escritor e integrante do governo brasileiro, Frei Betto. Na introdução, o diretor-executivo da Adital, Ermanno Allegri, falou sobre a importância de que existam mais meios de informação, como boletins e revistas de vários segmentos da sociedade, como o Terceiro Setor, para que mais pessoas passem a receber a informação. Ermanno destacou também sobre as fontes. "Aqueles que fazem o terceiro setor são fontes novas que se estão revelando como aqueles que têm uma objetividade grande no sentido de ter credibilidade, de poder colocar os acontecimentos, os fatos, e, inclusive a interpretação dos fatos. A América Latina teve mudanças radicais no último ano, e é isso que nós queremos fazer chegar a todos, não só aos nossos meios de comunicação, mas também a toda grande imprensa", expressou.

Em sua intervenção, Frei Betto pegou alguns aspectos interessantes da democratização. Primeiro falou que é preciso democratizar no sentido de se fazer entender. "Quando nós falamos, quando nós escrevemos devemos ter a capacidade de utilizar uma linguagem que não seja hermética, específica, especializada, mas que possa chegar ao conhecimento e ser entendida por todas as pessoas que escutam rádio ou lêem uma revista ou um jornal", esclareceu.

Frei Betto insistiu sobre a questão da internet, como democratização no sentido da existência de uma interação. Segundo ele, na internet é mais fácil que as pessoas exprimam seu parecer e recebam também de volta um parecer de apoio ou contrário. Sobre a rádio, Frei Betto considera que ela é mais democrática também porque permite a participação dos ouvintes, por telefone ou presentes nos estúdios, sendo, portanto, um meio de democratização muito forte. Já os jornais, por exemplo, se limitam às cartas do leitor, que nem sempre são publicadas, ou o são apenas em parte. Quanto à Televisão, Frei Betto frisou que a participação é quase zero.

Frei Betto ressaltou também a importância dos setores populares que, através da cultura, de datas importantes da vida são também elementos que democratizam a comunicação. "Esta não é a comunicação oficial de jornais e revistas, mas é uma comunicação que acontece dentro dos meios populares, que transmite elementos, que transmite valores éticos, valores de vida", disse.

Segundo Frei Betto, todos os nossos meios - sejam internet, televisão, rádio, revistas, jornais, boletins, agências etc. - são importantes no sentido de ajudar a perceber o que está por detrás dos fatos, por detrás das notícias, como por exemplo, o que é que a notícia ou o fato deve revelar. "Se não o revela, pelo menos a imprensa deveria se democratizar no sentido de fazer com que as pessoas não recebam simplesmente a notícia fria, mas fazer com que a nossa comunicação ajude a interpretar e a entender o que significam os fatos dentro da história", ressaltou.

Osvaldo León, presidente da Agência Latino-Americana de Informação (ALAI), de Quito, Equador, disse que "conseguimos democratizar a informação na medida em que também estabelecemos um tipo de vigilância, de controle sobre as notícias para fazer com que, se uma notícia falsa for divulgada, ou uma interpretação falsa em relação a uma coisa que um setor fez, é obrigação desse setor se colocar frente a um meio de comunicação para exigir uma retratação ou colocar a interpretação que considera mais verdadeira". Para ele, o espaço público da comunicação se democratiza na medida em que a cidadania dos vários setores sociais, classes sociais, de gênero, etc., conseguem fazer com que a cidadania que eles estão exercendo venha a ser conhecida. "É uma obrigação dos setores sociais comunicar, fazer com que se publique o que eles estão fazendo; portanto, os setores sociais devem comunicar e fazer chegar ao público o que estão produzindo", frisou, concluindo que é necessário para democratizar os meios de comunicação uma política nova em relação à comunicação e, também, uma macro-política, no sentido de respeito a todos os meios de comunicação, encorajando, sobretudo, àqueles meios que não têm recursos, e desenvolver o pluralismo na comunicação".

Durante o debate, após as palestras, ficou evidente a importância da comunicação na América Latina. Neste Fórum, por exemplo, há pelo menos umas doze oficinas, grupos de estudo e palestras sobre a questão da comunicação. Este é um sinal que, no âmbito do Terceiro Setor, o valor da comunicação está em crescimento.